A VISITA

A VISITA
Foto: Núbia Rodrigues

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DIA DA GENTILEZA

É dia da Gentileza!
Mas gentileza tem dia?
Nasce com o romper do dia
e eis que se fez necessário
colher um do calendário
e ofertar à gentileza.
Que ela, com sua delicadeza,
ocupe os corações
expandindo-se em gestos
da mais pura gentileza
ponha nos lábios um sorriso
com estranhos com amigos
a gentileza proceda
com sua doce melodia
transpondo as cores do dia
com cores de gentileza
e se espalhe no universo
pelo perfume das rosas
pela beleza dos versos
manifestando-se em atos
palavras e pensamentos
de puríssima gente ilesa.


domingo, 2 de novembro de 2014

POEMINHA

É bom estar contigo numa praça
Ouvir do seu violão aquele blues
A tarde derrete-se em luz e graça
Alamandas debruçam-se em pétalas azuis.

Risos de criança, cachorro latindo
Resquícios de infância e outros tempos
Meu vestido branco voeja ao vento
No ritmo fugaz daquele blues

A brisa revela nossas faces
Na liberdade imensa dessas tardes
De amores urgentes, repentinos
Aquele mesmo blues ao pé do ouvido

Vozes de moças, carrinho de bebê
O coração pulsa atrevido
Em samba, bossa, rock, bolero
Amor entre bemol e sustenido.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A GARÇA DA MANHÃ É TRISTE

A garça da manhã é triste
no pântano florido
à margem do breve lago
com seu pescoço longo e fino
que com a cabeça confunde
seu bico agudo e afável
A garça da manhã é triste
até que o sol alce
voo com assas alvas brilhantes
a garça da manhã brilha ao sol
a garça da amanhã é sol
à margem, no pântano florido.

domingo, 15 de setembro de 2013

AMORA

Um gostinho de infância
derrete-se em minha boca
em fruta vermelho-roxa
que colore a língua e os lábios
e faz um olho sorrir
e o outro ficar fechado.

Saborzinho de saudade
que embriaga meus sentidos.
Será gosto de amora
essa fruta encantadora
que possui doce ciência
de ensinar a ser feliz?

Oh, não conte, não agora
ao pai que você namora
deixai, oh, deixai sentir
a clandestina alegria
de namorar escondido
bem atrás do pé de amora.

A cada beijo roubado
um coração que palpita
oh, me guarde esse segredo
que não conto pra ninguém
que roubaste o coração
de quem tanto lhe quer bem.

domingo, 1 de setembro de 2013

O PALHAÇO

O palhaço chega
Dando piruetas
Canta uma canção
Cheia de piada
E ri das bobeiras
Que ele mesmo inventa
E prega uma peça
Em alguém do público
E dá três pulinhos
Depois solta um pum
Se olha no espelho
E se acha graça
Corre pelo palco
com uma perna só
O palhaço está feliz
E não é encenação
Quando ele chegar em casa
e tirar o narigão
e tirar os suspensórios
voltará a ser ele mesmo:
existe um palhaço triste
dentro de um palhaço alegre.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

ÁLBUM ANTIGO

Que belo retrato!
Era o avô quando jovem.
A mão no bolso da calça de marinheiro.
Nos olhos apenas o brilho de quem era jovem e sonhava.

DO NATURAL DESEJO

Ela falava de sexo.
A boca cheia.
Os olhos languidos.
Ele simplesmente desejava que ela calasse a boca.

A PEÇA

A vida pregou uma peça na parede de madeira da sala da antiga casa.
A vida pregou uma peça
Que peça!
Obra completa!
A vida pregou uma peça no coração de madeira de uma menina assustada.

Poemas da Boca pra Fora

sexta-feira, 24 de maio de 2013

BAR TRÊS CRIANÇAS

Quanto doce
Doce de coco
Doce infância
Vilhenescer
Largas portas de madeira
Por elas entrar ligeira
Doces horas passageiras
Vilhenescida em retratos
Poeira no chão
Pés descalços
Vilhena amarelecer
Histórias já tão vividas
Entre doces de abóboras
Três Crianças
Marias moles
Três Crianças
Suspiro alegre
Bala de menta
De amora
Três Crianças
Quem me namora
Vilhena é solidão

sábado, 29 de dezembro de 2012

PEDIDO


Que me desculpem os hiperativos

que vieram ao mundo para fazer a diferença

que não se levantam pela manhã senão para brilhar

que se destacam e chamam a atenção ao passarem pela rua cheios de graça.

Ah, que me perdoem os que pensam e logo existem

e os que nunca desistem

e os que vieram para transformar

Perdoem

se vim ao mundo para ser

ser humano e só, igual a outros no mundo.

Perdoem

se vim com essa passividade morcegante

para espectar as mudanças

e admirado, perguntar: quem fez?

Estrelas, mártires, baluartes da paz e das revoluções

deixe-me ficar em silêncio

dentro da minha caixinha

sem necessitar de plateias

sem ser referência a ninguém.

Pois, se vim ao mundo

foi para falar baixinho

para escrever escondido

em folhas finais de cadernos

Para andar em cantos de calçadas

de cabeça baixa

e chapéu escuro

para ninguém me ver.


Núbia Rodrigues

domingo, 13 de maio de 2012

SOBRE O DIA DAS MÃES

E era dia do operário de construção. Dia do fotógrafo, do padeiro, do dentista, do professor. Coisa fantástica é ser todas essas profissões, homens máquinas que produzem em série cuidado, objetos ou conhecimento. E achei normal um dia para representá-los. Mas, o dia de hoje é mais do que ser de profissão, ou está longe das ciências exatas, é para quem possui uma ciência comum: ser mãe.

Mas, mãe?! É tão natural sê-lo! Sê-lo uma ou muitas vezes. Biológica ou de criação. E é necessário um dia especial para comemorar, divertir, presentear as doces ou amargas senhoras que repetem a eterna circunferência da vida e fazem com que o mundo continue a girar?! Que aprendem de maneira mística, divina talvez, a fórmula certa para perpetuar o amor?!

Mãe, nome cuja nasal o torna musical. De uma musicalidade suave. E faz indagar: como compreendem sentimentos turbulentos? Como lidam com as ausências? Como sabem ser tristes, mesmo quando felizes? E como sabem amar, mesmo quando odeiam?
Como são protetoras... Como cadelas e gatas que defendem suas crias com garras e dentes. Na natureza pura, esse amor não é menor. Mas, é amor ou instinto? E seria o amor instintivo?

Como sabem libertar e encontrar a beleza onde quer que seja.
Mas, Mãe?! É tão simples sê-lo.
Sim. É um simples e complexo selo. Um símbolo de amor profundo.
E só faz notar como as coisas mais sonhadas e lindas são as mais triviais. Mãe, todo mundo tem uma, ainda que invisível, imaginável, distante ou desconhecida... Mãe é o critério básico para existir a vida na maioria das espécies. Na nossa espécie é assim. Por isso reservar dentro de 365 dias um só para prestigiá-la.

E há que se pensar em virgem mãe, em terra mãe ou outras formas de maternidade cuja arte fundamental consiste em nos dar a vida.
Dar-nos a vida! De que maneira inconsciente, despretensiosa e instigante ela possui essa magia de dar a vida? E não seria Deus esse progenitor. Mas, se a vida é fruto de um ventre feminino e todas as analogias feitas à vida a isso se referem, então, Deus seria uma bela senhora de olhos doces e varinha de goiabeira na mão?

NOSSO TEMPO

Que tempos maravilhosos são esses em que vivemos!
Carrego junto ao peito o livro que quero ler
escrevo em murais, blogues
janelas, muros, calçadas
os pensamentos transcendem as paredes cerebrais
saltam dos olhos
invadem
sofás
camas
óculos
mãos.
no entanto,
as palavras
se distraem
se dissolvem.
desalinham-se
difamam-se
dos sentidos se separam.
na multidão ouço vozes que vem de todos os lados.
sobre o peito tantas frases falam coisas que nem sei.
sob meus pés signos absortos
me penetram
me transformam
e sou tanto e sou nenhum
não há revolta nem crime
nem dilema
nem certezas
não há calma
nem há medo
só verdades flutuantes
agitação
baixaria
sob a liquidez dos atos, falas, olhos, sentimentos
meu peito nem indaga
cala
cala
e absorve
poeira
eco
e nada.
Boi comendo
Boi comendo
Boi comendo
Boi bufando
Boi mugindo
Rumicomendo
Enquanto velhos de chapéus negros
Cobertos de estrumes e lama
Lamentam peixes perdidos
Por entre coqueiros verdes
E por entre bananais
E por entre laranjeiras
Bois ruminam suas vidas
Empinando as bundas gordas
E balançando os rabos alegres.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CRÔNICA - O ANIVERSARIANTE


E chegou o fim do ano e antes que o novo inicie é preciso por a mão na consciência do bolso. E sempre damos um jeitinho de não ficar fora dessa. As festas são tão bonitas. As cores encantadoras, e as propagandas de TVs enchem os olhos e a imaginação.
O Natal chega primeiro. Nascimento de Jesus. Celebremos, oh, irmão, e viva o cartão de crédito! E viva as compras a prazo e vivas os shopping Center. E viva os supermercados. Jesus espera sua hora pra ser vívido também. Porque agora, tão preocupados com a ceia da meia noite, com a sandália prateada, com o terno azul marinho, os presentes das crianças, os convites dos parentes, as passagens de avião é impossível dar tempo de lembra o porquê de existir uma data tão distinta das outras datas do ano. Pensemos nisso depois.
E Jesus, morto na cruz, vai ficar lá esperando. Mas depois, de pança cheia. Com sandália pra tirar, e com casa pra limpar, e com comida sobrando que tem que jogar no lixo, parentes que já esgotaram todo o saco de paciência que o Papai Noel nos trouxe, o melhor mesmo que se faça é descansar. Natal é data estressante. Tanta coisa pra fazer, organizar e comer que depois ninguém nem lembra do pobre lá pendurado  com espinhos na cabeça.
E mais uma vez se passa o dito aniversário só ele não comemora porque não foi convidado a penetrar nas casas e nos corações humanos. A cear bolos de paz e docinhos de esperança. Ele não sopra as velinhas e não ouve parabéns. A razão virou do avesso e o próprio aniversariante fica de fora da festa.

sábado, 8 de outubro de 2011

Os pés

Tenho uma pedra no sapato
descalço
ela me entra no calcanhar.
Tirar o lacre como
quem tira palavras da boca
como quem arranca palavras da boca
com um alicate
que vai no fundo da garganta
e a palavra, ainda prematura,
salta
assustada.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Hoje quero ficar ausente
sem preguiça, medo ou silêncio
sem pensamento
canetas
sem tempo
sem dar resposta ao vento
sem ironia
sem poemas
vazia.

Em mim há sempre uma palavra reprimida
Sem som, eco ou sombra
Que não exprime gozo nem a dor
Que não é dita nem mesmo no escuro
Mas fere minha alma com seu silêncio
Em sua ausência de sentido me consumo
Me rasgo o corpo e sangro e esgoto
Quando me salta dos olhos, num espanto.

ESCOLHAS ERRADAS


Saio às ruas como quem usasse roupas pelo avesso
Meus passos ecoam com o som dos meus sapatos
Sinto-me nua, como quem chegasse ao fim no começo
Tudo me fere
A mais leve brisa me rasga a pele
E escorro gota a gota.
Na madrugada, vejo frestas pelas portas semi-fechadas
Listras brancas pelas ruas indicam partida
Você distante
Você sempre fora do alcance
Como um signo sem tradução
Te pronuncio
Você cala
Como um corpo fechado que dos meus olhos não reage
Ao toque de minhas mãos não cede
Não dilui ao meu contato.
Sua boca me convida e me nega
Você me invade
Com seu corpo
Seu sotaque
Sua tatuagem nas costas
Miro em você meu mais suave desejo
Vejo você nos desenhos dos copos
Beijo sua boca nas vidraças
Me embriago do seu sabor a cada gole
Enlouqueço
Saio pelas ruas por onde antes andava
Grito, danço, suo,
chuva molha minha face
Minha elasticidade congela ao contato das gotas que como punhal me tocam.
Você viaja
Você vaidade
Invade meu quarto com seus mil horizontes
Posta fotos em meu mural
Espalha meus discos
Rouba meus poemas
Me deixa mensagens
Você ironia
Suas roupas de brechó
Seu cigarro
Sua risada
Provoca em mim asco, tesão, calor, medo
Ciúmes, inveja,
ódio,
ódio,
amor, amor, amor
Tudo é desejo
E lágrima
E beijos que não te dei.